31 de dezembro de 2012

Passou mais um ano...


O dia fica curto... o céu vai escurecendo... as horas passam rápidas na ampulheta do tempo...
E quando nos damos conta... "passou um ano"!!!
Passou... deixou "coisas boas, outras assim-assim", mas por certo, houve neste ano um dia... uma hora, que vale a pena lembrar como um dos melhores dias da vida...
Por vezes, esquecemos "isso"... um gesto... uma palavra… uma mão amiga... um abraço... uma lágrima... uma saudade...
Foi um ano difícil...? Foi!
Mas trouxe-me amizades mais fortes...
Mostrou-me os amigos, que me viram quando eu "estava invisível"... E ensinou-me muitas coisas...
Trouxe-me "prendas", que só se têm uma vez na vida...
Somando tudo... vale sempre a pena... quando "a alma não é pequena", e se acredita que a "vontade", faz milagres.
Um abraço, a todos os "que estiveram comigo"...
Feliz 2013!


30 de dezembro de 2012

Feliz ano novo


Um dia branco... mais branco, que a brancura de ontem...
Lá fora a colcha alva, reveste a natureza...
Bom fim de ano...
Com sol... ou chuva... ou neve...
Mas que caibam nele... todos os sorrisos por sorrir...
Todas as madrugadas esperadas...
Todas as noites aconchegadas...
Que se soltem os abraços...
E se renovem esperanças...
Azuis... vermelhas... ou brancas...
Que caibam os corações,
Que não sabem de tamanhos...
No lugar da alma... volita-me um mar no peito!
E sou esta assim... estranha... alegre e triste... destemida,
Uma simples, mulher da ilha!
Na onda de renda de espuma... deixo o ano que passou...
Feliz ano que chegou!


29 de dezembro de 2012

O Branco...


29 de Dezembro...
A neve cai abundantemente...
Nada mais branco, que este branco...
A não ser o branco que por vezes, nos habita o coração...
Alguns dizem que é preto...
Mas acho que é branco... embora belo…, desolador!
Fico-me com esta cor que tem movimento, sentir e cheiro...
Fico-me, com este branco... que é vazio... e também dói...
Nas horas vestidas de branco... há uma tremenda solidão...
Não por falta de pessoas... mas por falta de lembranças... palavras...
E vou-me habituando ao branco!
Bom ano!
Com tudo o que faz a vida ser, e valer a pena!
Abraço!

Sempre fui "um ser estranho!...”

22 de dezembro de 2012

Presépio da Beira Alta...


Aqui está o meu presépio, na Beira Alta....
Que me desculpe, Sua Santidade, mas "todos somos filhos de Deus"... 
Se S. Francisco de Assis existiu... mais Santo António, e o seu celebre "Sermão aos peixes", porque "carga d'água", ia eu "expulsar do estábulo", uma vaquinha e um burrinho...
Convenhamos, Sua Santidade, que estes dois, nada têm a ver com a mensagem que o espírito de Natal Cristão, pretende....
E ainda, por cima.... nem serrados, nem pastagens, tenho...
Mas arrumá-los na gaveta?????
Temos pena!
Mas a minha vaquinha e o meu burrinho, é que não!!!!!
(Fiquem bem, lá p'ró Vaticano!)

Corrigindo... "o meu presépio", não!
Como diria a Ti Jerónima:
-Mê e de mê Manel… inda por riba, de ambos dois...
Era o que mais faltava, agente agora botar fora, a nossa vaquinha a mais o nosso burrinho...!

As tantas, "inda expulsam o galo, da Missa da Meia-Noite"....
Se calhar nem o galo, cantou a São Pedro...
Isto é que vai uma crise!!!


20 de novembro de 2012

"Ser criança"


É bom ser criança... saltar... correr...
Coração ao leu... riso no peito...
Mãos que ondulam...
Fazer de conta... e cantar...
Aquela aranha pendurada,
É uma estrela dourada...
No bicho de conta que conta...
Tem um fio que desponta...
A lua e o sol n'outra ponta...
Se não se lhe ensina... não mente...
Uma pedrinha a faz contente...
Ser criança... é fácil...
É ter livre o pensamento,
Ser-se criança... É “por dentro"!

Para a minha neta
(Que me faz ser criança, muitas vezes!)


29 de outubro de 2012


Com bonecas e afagos...











e esta alma empresta-te o triciclo!














Podes ficar um jeitinho mais animada!?











:-)


"PEÇA ÚNICA"


Sem triciclo...
Nem bonecas...
Ou por lá muitos afagos...
Só um laço, na cabeça...
Feito borboleta de pensar...
Um ilhéu,
E um azul de mar...
Que me fez "edição limitada"
A caminho de acabar...


Vestes


Um dia, triste, nasceu esta manha!
Árvores, nuas balançam os galhos ao vento...
São como suplicas... desgarradas...
Presas só, pela forca da raiz, que as mantém firmes... De pé...
De pé, dizem, que morrem as árvores...
Morremos de pé, todos os dias um pouco...
Não fora, a tal raiz que muitos (?)...
Ou poucos (?)... Ainda possuem...
E assim, balançando,
Como os galhos nus de velhas árvores, nuas,
Caminhamos mais um dia...
Esperando sempre que a nudez, se vista, não de adereços...
Mas da força que vem da seiva que nos circula,
E nos faça verdes cor de esperança...
Nos faça brancos, cor de luz...
Nos torne azuis como um céu de Verão...
Nos avermelhe como os poentes
E nos entrelace com laços de espuma...
Assim... estaremos vestidos...
Com um xaile de ternura!
São coisas que por mim passam...
Como estes ventos do Norte...













"olhares.sapo.pt/arvore-despida-foto4981431"

22 de outubro de 2012

To Mizé... By Eildgia




13 de outubro de 2012

Madrugadas...


Gaivotas enluaradas de espanto...
Noites de branco...
Noites de escuro...
Vestem-se os meses... Veste-se a vida...
E o rosto muda como estacões, achadas, perdidas...
Nas rugas que se espalham por todos os cantos do sentir,
Ainda há um sorriso, escondido,
Que espreita,
Ainda há uma criança soletrando o verbo esperar...
Eu espero... Eu espero...
Encontrarei... ou não irei encontrar,
E resta esta palavra agri-doce no canto da boca, que se chama:
Lutar!
E a menina que sonha, desata o aperto do laço...
E corre como o vento por nuvens... e quando uma lágrima deslizar,
Ainda..., uma vez mais,
Voltará a renovar o verbo sonhar...
Pobre menina... que não sabe cansar-se de tanto desejar!
Há! menina se eu pudesse, dava-te um colo de embalar...
E um coração encharcado de luz, para te consolar...!
Mas não tenho, menina...
Só duas mãos, feitas de água, sem ponta por onde pegar!

London/2012



11 de outubro de 2012

Dias...!


Os dias são lentos, como o remoer das marés, encostadas à casa do tempo...
Os dias são pedaços de nós, perdidos ou achados por aí...
Os dias são soluços, engolidos... sorrisos encontrados de esperanças...
Os dias levantam-se e adormecem, por dentro de nós...
Não importando se faz frio... ou se está sol...
Os dias, são páginas dum livro que nunca escrevemos... por serem tão dias... tão horas... por serem a procura inconsciente (ou não...), do que em nós se passeia, nos constrói, ou nos destrói!
Vou apontando os dias no meu relógio de sol, que habita por dentro de todas as minhas lutas!
Um dia talvez...
Um dia, os dias tenham direito a páginas que se possam saborear, como um gomo de laranja... uma gota que no rosto desliza...
Mas que valeu a pena ser vivida!

(Mizé - London)



4 de outubro de 2012

Francisco...


Hoje é dia de S. Francisco!

Deixo aqui uma lágrima perdida... uma saudade demorada, Um coração agradecido...
Por quem não nasceu neste dia, mas era assim que se chamava: Francisco!
Francisco foi o meu pai... o meu melhor amigo...
"Dentro daqueles “alvarozes”, com desperdícios, a sair dos bolsos... caixa da ferramenta... Ar alegre jovial... um coração do tamanho dele...
"Na lágrima que se vertia quando ouvia uma Orquestra...
E se lembrava do seu saxofone Barítono, era assim, meu pai...
Um Ilheu-Terceirense, "ferrenho" até ao "tutano"!

Obrigada, por me deixares de herança, a pessoa que sou...

Contigo aprendi a ser "esta", mulher cheia de coragem para enfrentar a vida... sem perder a alegria, nem o sentido de humor...
Não sei onde estás...

Mas sou feliz por te ter tido como pai!

(A tua Mize, por "Terras do Canada"!)

1 de outubro de 2012

Braços e abraços


Os laços que a vida tem...
Os laços que prendem a vida...
A vida que prende os laços...
Que são braços e abraços...
Que são nós... atados, desatados...
E são fitas, ora brancas... ora pretas... coloridas...
São os laços que te prendem, e são as raízes da vida...
Tenho laços e abraços,
Soltos ai, pelo espaço...
Que volitam... que volitam...

Mas os laços que são abraços e braços...
São saudades... idas... vindas... chegadas e despedidas...
E me mostram... a cada nó destes laços...
Quem pela estrada partilha a minha dor... ou ferida...
E num sorriso... ou palavra... me renova e me dá vida!
São só laços ou abraços... saudade... ou despedida...
Mas somos nós a rodar a constante roda da vida!





28 de setembro de 2012

Tomara que os dias me dêem tempo...


Dias, que são só dias, dias que contém dias...
Dias que são só horas... ou minutos contados como séculos...
Que são dias? Que são horas?
Horas contadas com minutos que são tempos infindos...
Tempos infindos, contados como horas....
Horas intermináveis... como desertos de areia ou espuma…
Que se desfazem... e fazem...
Que construo como aranha paciente...
À qual desfazem a teia...
Mas não o seu propósito...
Dias... são casas onde habitam e moram...
Os sonhos desencontrados,
As lágrimas... desembrulhadas,
A força de uma onda,
A asa leve de um pássaro,
E eu sou só da família das borboletas...
Tomara que os dias me dêem tempo...
Tomara que os dias cresçam...
Tomara!
Que a minha alma é tamanha!
Como as vinhas da minha ilha,
Esperando, escondidas,
O choro do Garajau
E os dias vão-se tornando a minha pele,
Sedenta....
Que aguenta... aguenta... aguenta...

9 de setembro de 2012

... através dos silêncios...


Domingo!
Setembro!
Céu encoberto... tristonho... a Beira a mostrar-se Outonal...
Se houver sol... não sei por onde andará...
As coisas apressam-se numa lentidão silenciosamente sentida...
Os olhos, guardam apressados, mas precisos, a necessidade das imagens...
Guardam-se cheiros e sabores... pequenos gestos... delicadamente intensos... demorados, num respeito, que admiro... Numa força que se não mostra, mas que se sente...
Que "pena" tenho daqueles que nunca sentiram o sabor do amor, através dos silêncios... de pequenos nadas, que fazem "a diferença inteira"...
O ar aquieta-se... no jardim... E eu, vou indo devagar... como na asa do tempo, feita pequena porção de esperança e vida!
Abraços da Beira!

8 de setembro de 2012

Saboreando este sabor da quietude


Mais um sábado, amanhecido com Vila Nova a parecer a "terra da Bela Adormecida"...
Só ficaram "acordados", aí uma dúzia...
Um carro de quando em vez... ou muito de vez em quando...
Um arzinho fresco e puro p'la manhã, a anunciar, chegadas e partidas...
Um céu azul clarinho pespontado por restos de nuvens cheirando a fumo de fogos que foram dizimando este Distrito...
É o tempo do odor das últimas férias... o povo abalou para ver o mar... sentar-se na areia... a ver as ondas a bordar a terra... cheirar a maresia... molhar-se nas águas frias de Aveiro e da Figueira... Retemperar forças...
Rir um pouco... (faz falta rir...) Tirar dos ombros o peso, do peso da vida, nem que seja por instantes...
Caminhei ao longo das ruas e fui "saboreando este sabor da quietude", que tem esta perdida terra, no interior da Beira-Alta, e que hoje é no meu peito a morada que habito a meias, com a ilha que me navega o coração...
Mas sendo meio gente, meio ave... meio borboleta... preparo a minha "alma lutadora", para o Outono que há-de vir... e que se anuncia disfarçado de folhas caducas no meu jardim...
Bom fim-de-semana... Até a um dia destes!
Abraços, como nuvens... ou aves... com todos os tons que vestem a natureza!
Arrumem-nos por aí...

31 de agosto de 2012

Mulher da Ilha dos Bravos


Ultimo dia do mês de Agosto!
Está a "partir o Verão"... daqui a pouco, começam a surgir nas copas das árvores, o amarelo, o laranja, o castanho e o vermelho...
O tempo a "envelhecer"... A caminhar devagar para o cheiro das lareiras... do frio que corta no rosto... dos dias pequeninos...
São as horas das partidas, a marcarem compasso nesta ampulheta , que se chama vida!

"Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"!
Há que aceitar o presente e transformá-lo, no melhor dos futuros!
E assim fala uma "mulher da Ilha dos Bravos" (Devia perceber alguma coisa... quem nos chamou assim...)!

29 de agosto de 2012

... Como as aves... chegarei!


"De tudo o que é meu...
aquele lugar estranho, no fundo do coração, sempre aberto à chegada do teu nome"...
Tu sabes, que sou como as aves...
Deixo-te a palavra que entendas mais perfeita sobre a terra...
e logo... logo... como as aves... chegarei"!
:-*
E traço nos meus olhos, a estrada onde te encontrar todos os dias...
Por cada dia... uma batalha ganha... por nós!
:-* ssss!

21 de agosto de 2012

Nasci com dois pares de asas, vou aonde eu me levar


Estou naqueles momentos silenciosos em que pouca coisa parece fazer sentido.
Sigo a vida conforme o roteiro, sou quase normal por fora, pra ninguém desconfiar.
Mas por dentro, eu deliro e questiono.
Não quero uma vida pequena, um amor pequeno, uma alegria que caiba dentro da bolsa.
Eu quero mais que isso.
Quero o que não vejo.
Quero o que não entendo.
Quero muito e quero sem fim.
Não cresci pra viver mais ou menos…
Nasci com dois pares de asas, vou aonde eu me levar.
Por isso, não me venha com superfícies, nada raso me satisfaz.
Eu quero é o mergulho. Entrar de roupa e tudo no infinito que é a vida… (Se der...)!

11 de agosto de 2012

"Ilimitar o Poema"


Como a noite bate no rosto...
Como o corpo bate no vento...
Como o vento bate no peito...
Como a água bate no corpo...
Palavras, são gotas de chuva...
Dizendo...Dizendo,

Peixes...
Algas...
E conchas...
Ao mar que em mim se passeia

E é uma luz preciosa
E é asa azul volitando,
Naquela que é a minha memória...
E,
É uma ilha...
Em escamas
No nunca, "não mais se acaba"

Estes nomes no meu colo!


9 de agosto de 2012

Por um quase nada...


Quase...
Que é quase?
O começo de ser...
O fim do inicio...
O meio de nada...
Quase...
Tal palavra estranha....
Por vezes medonha...
Por vezes tamanha...
Quase... é nada e é tudo...
Por um quase nada se ganha...
Por um quase nada se perde...
Por um tudo... quase se perde...
Por um nada, quase se ganha...
Por um quase... tudo se perde e se ganha...
Tal palavra estranha...
Habitando em nós... pequena e tamanha...
Tal quase teia de aranha...
À espera de quase ver se me apanha!
( E eu fugindo... pequena... sem manha...)


7 de agosto de 2012

Hoje algumas palavras ainda são nódoas rosadas no meu corpo


Vamos desabitar a dor...
Escolher a palavra, a maneira...
Desabitar portas fechadas... corações emoldurados...
Encontrar o rasto intacto...
Edificar a "casa" em ruínas...
Sonhar com sorrisos, luas e mares...
Enterrar a dor... apagar dos muros os vestígios escuros...
Iluminar os rostos...
E gravar por dentro do coração, ou da memória (estas "coisas", ás vezes confundem-se)...
E recordar sem mágoas, as promessas que a vida parecia indicar...
Junto na tarde o meu silêncio...
E vou sonhando com "mundos", que ainda podem ser salvos!
Sou uma crente! Solta na fronteira de todos os segredos!

31 de julho de 2012

O lugar do amor


E um dia ás vezes, a vida começa a doer muito, e não sabemos onde acaba ou começa o nome de deus... ficamos só com o que sobra da luta, nas duas mãos...
E as pessoas não querem desistir, tão longe "do lugar do amor"...
Então ainda ficamos à espera "de ventos favoráveis"!
E que "à toa pelo tempo", escorre silenciosamente, uma razão para trazer-nos de volta!
E o dia fecha, na noite, procurando renovar-se, na sombra do sono...
(Tudo isto serve de desculpa, de muito pouco)...
Obrigada, "Sol" pela manhã que abres na minha vida, quebrando os medos construídos pelas noites!

15 de julho de 2012

A quem acompanha os meus dias...


Para lá de tudo o que possa ser nomeado,
Fica este lugar, que conta já anos,
Onde coloco as horas,
Que não cabem nos sessenta minutos dos meus dedos,
E traço nos meus olhos,
O caminho onde os dias corram devagar…
Para que a lua me ensine
A seguir os meus atalhos,
E o sol a resgatar os meus sonhos,
E me cubram de palavras felizes.
Guarda-me…
E vai-me deixando voar,
Sobre esta terra de ninguém,
Onde morro e nasço,
Por qualquer coisa, que me fale de ti!

(Não há explicações para tudo)

Foi 15!




11 de julho de 2012

Portas... Lugares mágicos...


Portas cerradas… portas trancadas,
Portas fechadas… Aferrolhadas,
Portas sem chave… sem fechadura,
Portas que se não abem… que se enclausuram…
Portas fechadas,
Entreabertas, meias fechadas… meias abertas
Porta encostada,
Entre uma e outra porta,
Patamares que despertam!
Portas breves, calam silêncios,
Enquanto a vida
Se vai confundindo, numa vidraça,
Portas escancaradas, pelo tempo fora,
Onde dificilmente, se articulam palavras,
Longos corredores, de regressadas memórias,
Sem lugar único,
Dentro da casa,
Decoro em lembranças ancestrais,
Uma porta fechada, pequeno patamar,
De um rés-do-chão
E o eco do meu destino,
Foi habitar-lhe o sótão…
E das portas mais brandas,
Que por entre os meus dedos se abriram,
Construí, o recanto da moradia,
Que por noite me invade, o coração!
E não terei outra história de portas melhor para contar…
Mas preparo-me com doçura,
Para a que se rasgue em luz e cor,
E me construa por dentro a noção exacta,
Do que é o amor…




O nascimento da palavra


Até pode ser… até pode ser,
Que não queiram palavras…
Até pode ser… até pode ser,
Que não gostem de gestos,
Até pode ser… até pode ser,
Que não se recordem…
Até pode ser… até pode ser,
Que o que o sinto, não me foi ensinado,
Mas pela construção de mim, só herdado,
Até pode ser… até pode ser,
E de um dia pró outro,
A palavra era vermelha…
E a ternura, azul…
O silêncio, branco…
E as sementes, por despontar…
Roxas de espanto….
E no devagar das minhas mãos,
Foram crescendo,
Como bagos de uva,
Como o toque leve da sombra nas águas,
O destino escrito,
No som musical, das sílabas… lavadas,
Quando foi que as palavras,
Nasceram em meus dias?
E no território, dos meus passos,
Foram ficando,
Marcando compassos…
E não vale a pena tentar descobrir!!!
Porque a memória,
Se encarregou de o encobrir!!!



10 de julho de 2012

Como dizer...


Como dizer ás palavras,
Que alimentam a minha fome, e me projetam
Para a linguagem das coisas e dos bichos,
Nos imperfeitos dias e noites,
E me tocam por dentro,
A oeste do meu corpo,
Como dizer aos meus gestos,
Que sejam breves e claros,
Como aves,
Que assumam o dom de ser asa,
Como dizer, aos meus olhos,
Do que não me pertence,
Mas que guardo o ouro, que o coração sempre teve,
Desabotoo a vida,
Como da urgência de um barco,
E por mim deslizam inquietas,
Vestidas de vestidos frágeis,
A certeza da magia das palavras…
Ornando os meus silêncios,
Nas letras esquivas do meu nome!
Que palavras?
Juntei-as nesta tarde ao meu silêncio!
E toco de leve o rumor dos seus segredos!
Sou capaz de jurar que uma delas se transformou,
Em onda de espuma, sobre a minha pele!



17 de junho de 2012

Eu queria dizer-te...


Eu queria dizer-te pai...
Que embora não estejas, sempre estás...
Estás em cada gesto de Amor...
Em cada palavra delicada...
Em cada sacrifício.
Em cada lágrima,
Que escondeste e transformas num sorriso meu!
Eu queria dizer-te que cada estrela que brilha, é o brilho dos teus olhos!
Às vezes não sei dizer-te o quanto te amo...
Mas hoje os meus pensamentos, sorrisos e abraços, ternura e carinhos,
Irão ser um bouquet de flores, para enfeitar o teu coração.

E eu que já não tenho o meu aqui!
Sei que o tenho em cada coisa bela que a vida me mostra, porque foi ele, que me ensinou a vê-las...
Abraços pai !Onde quer que estejas!
Aqui ou onde o Céu não tem fim...
E não te esqueças nunca, que me orgulho de ti.

Dedicado a todos os PAIS...
Presentes ou ausentes, sabendo que é pouco,
Mas vem dum lugar onde as partidas não são definitivas...
"UM LUGAR CHAMADO CORAÇÃO"


Pelo dia do Pai, no Canadá (17/06), e transmitido pela voz de Josefina Azevedo, no programa "A Voz da Amizade", de António e Josefina Azevedo, na CHRW 94.9 FM, pelas 2,30h locais, também pela net em: http://www.radioluso.net/73.html



14 de junho de 2012

Pequena e mínima ideia…


Pequena e mínima ideia…
Asa pequena… nua,
Uma haste a segura,
Levo-a onde tudo explode,
E abraço-a
Onde as palavras existem,
Na dimensão branca do papel,
Deste rio de vidro e cristal,
Meço apenas,
O que cabe,
No único lugar vazio,
Da palma das minhas mãos!



Não me tirem as palavras...


Não me tirem as palavras,
Não me cortem estas asas,
Que minhas marés são de prata,
Flores de espigas soltas,
Como contornos de ilha,
O que tudo muda tudo,
Da minha vida marinha,
Escondidas nos meus braços,
Em laços, nós e abraços…
O muito que atravessa o mundo!
Deixem que o vento sopre,
E que eu galope nas ondas,
Deixando cair das mãos,
A negra terra vermelha,
De que me nascem palavras,


Resistem as lembranças!
A vida, não!



Lembro-me


Lembro-me que o meu coração,
Era uma borboleta,
Feita de cores orvalhadas,
Pintadas na minha pele,
Enrolei-me neste corpo,
Como se eu fosse seda,
E a borboleta puro espírito,
Desloco-me como as asas,
Que me habitam…
E lembro-me…
Que o meu coração era uma borboleta,
Ò mulher entre palavras!
Dentro de ti a borboleta é um frasco,
Cheio de água e sal,
A ondular-se como um rio,
Por vezes quente,
Por vezes frio… frio,
A morrer de travessias!


Eu só era


Eu só era o som dum búzio,
Eu só era uma espiga ao sol,
Eu só era um sussurro de vide,
Encostada a um muro,
Eu só era uma folha desprendida,
Eu só era aquela onda pequenina,
Eu só era uma raiz perdida,
Crescendo a pino no peito,
Unindo palavras à solta,
Eu só era fruto e som,
E um coração povoado,
Que esperava intensamente,
Que luzes se acendessem,
Mas surgiu esta pessoa,
Com um pássaro no peito,
E uma breve gota d’água,
Sem mais nada… sem mais nada!


Caso eu seja


E a terra à volta do sol…
Ou o sol à volta da lua…
A lua à volta da terra…
Ou o contrário todo,
Por aí, eternamente,
Numa dança graciosa,
Harmoniosamente tocante,
Cheia de voltas e encantos,
Coreografia genial,
Sem haver um só engano,
Sem passo que seja trocado,
A boiar nos intervalos,
Deste infinito mundo,
Cheio de vazio sem fundo,
E eu não sei coisa nenhuma,
Já que coisa nenhuma,
É nenhuma coisa,
Fico-me pela gaivota marinha,
Que sobrevoa as águas,
Num lugar qualquer…
Numa pontinha de asa breve,
Roçando a ilha… roçando,
Caso exista o lugar de eu ser gaivota!


12 de junho de 2012

O Não do Sim...


O não do sim….
O sim do não…
O não e o sim…
O sim que é não…
O não que é sim…
O não que é nim…
O sim que é só não…
O não que é só sim…
E sins guardados em nãos,
E nãos contidos nos sins,
Acenos antigos… sins pesados,
Nãos leves…
De sins sentidos,
 E nãos percebidos… sonantes… negados…
Em cada sim, começa o mundo,
Em cada não, o seu recomeço,
Que vem de nós e respira no verso,
Um sim nos afasta,
Um não, aproxima,
E mordo a rima…
Um não que afasta…
Um sim que aproxima…
Um não que é seta…
Um sim que é promessa….
Tanto sim em demasia…
Tanto não, que em vão regressa…
Um sim,
Ou um não,
O discreto percurso da vida… imprevisível…
Onde num sim ou num não,
Tudo é possível!

(Para quem me escutou… me percebeu… me ajudou...
E até adivinhou a “história do não e do sim”)

Um não!
E um sorriso Drª Cristina!



A invenção das coisas


Dão-me um ponto na linha da água,
Não tenho mais nada…
Se inundar este branco do papel,
Terei os silêncios que falam,
E o que fala será mudo,
Porque discutem heranças e posses?
Entre o céu e a terra,
Tenho tudo,
E a distância que se abre,
Entre o espaço do meu mundo,
E o lugar do meu nome,
Disfarça, e deixa à porta de mim,
O que me cerca de silêncios,
E me deixa,
Livre… liberta… assim…
E vem na voz dos búzios,
Sonoros sons da alegria,
E trazem o que é daqui,
E nestes confins do confim,
É-me dado perceber,
Que nada disto é p’ra mim…
Busco a voz que me alimenta,
Sal… maremoto… tormenta,
Não tenho nada a perder,
Com tanta palavra a crescer,
E dou por mim tão inteira,
Leio a sina, nos meus dedos,
Como vento que ondeia,
E recomeço de novo,
Como ave no seu voo!
Que mais querem sou assim,
Filha da maresia…
E desta vida… vivida!



Urgências


É urgente saber ainda...

Da Igreja da Conceição,
E do toque das matinas...
Da Escola à nossa espera...
Do Bus azul que vinha da Base,
cheio de risos... rapazes... meninas...
Do toque da campainha,
Da entrada p'la janela...
Em três degraus de madeira,
Ao corredor p'rá Cantina...
Do pequeno posto médico,
Encatrafiado entre o corredor interior,
E a sala das meninas...
Dos piqueniques secretos,
Com araçais e amoras, escondidas na Torrinha,
Dos "cognomes inocentes" ...
Aos nossos respeitados Docentes...
do brilho que tinham os Bailes...
do olhar atento das mães...
Da cumplicidade (já á altura)
Do Dr.Víctor Magalhães...
Das escapadelas furtivas...
Até ao Jardim e tanque do preto...
No começo dum namoro, desperto...
Ladeira de S. Francisco...
(Santo que é do meu pai...)
Onde é que isto já vai...
Lembranças... amigos lembranças...
Que fazem das nossas tranças, cabelos brancos, grisalhos…
Alegrias... sorrisos e ralhos...
Tanto que eu vos contaria...
Se mais hoje papel haveria...
Há coisas que já "me esqueço"...
Mas, voltarei... eu prometo...
Da Escola... e desse tempo...
Não se "me esqueceu" o endereço!



11 de junho de 2012

O nada...


Do nada que tem o nada,
Do nada que o nada tem,
Do nada que é tudo e nada,
E do nada que é muito tudo,
Há pouco do muito nada,
Há muito do nada tudo,
E o tudo mudou o rumo...
E o nada resiste e é fruto,
Doce, amargo,
Como só o nada e o tudo,
Ou o tudo que é o nada,
Ou o nada que é o tudo,
Até perder de vista,
A orla do meu futuro!

No nada que o nada tem...Que o nada enche de nada,
E te faz pensar que tens tudo...
Mas que é afinal... nada é...
.Se não um grande ou pequeno nada...
Que por ser nada... Ou tudo...
Te faz pensar... num "escudo",
Que é nada... mas está no escuro...
E dentro constrói um muro...
Feito de nada e de tudo...
E te deixa... por vezes só... por vezes mudo...
Sem explicação para tudo....
Que o nada e o tudo...
São tudo e são nada,
E te deixam calada....
Só... vazia... amordaçada...
E com nada e tudo....
Não possuis nada....
A não ser a palavra...


Ás tintas da minha amiga Zulmira


Um dia vou dar-te... um azul de mar que era cor de anil...
E pintava os sonhos como versos que eu tinha...
Hei-de encontrar o roxo... mais roxo da "nossa Saudade"...
E da nossa Lira...
Do branco da cor da crista da onda... leve como pluma de gaivota...
Do verde-verde dos pastos... que entra no olhar e fica...
Se o meu tempo não chegar... farei que te cheguem...
As cores por pintar... Eu estarei fora de prazo...
Mas não as minhas tintas...
Um dia pintarás com elas a porta... a rua... a casa...
A nudez da vida...
Entre cais... malas e vapores...
Cabelos... laços... fitas em desalinho...
Eu serei... a transportadora das cores a meio do caminho...
As palavras por vezes "desfazem-se"... nas correntes do ar...
Põe-nas "junto à mão", na expectativa do meu coração...



Ó coisas da nossa infância!


Bem que o sinto, o toque do vento,
O vento vindo do cais,
Corpo Santo, acima trepando… assobiando,
Na curva da casa do António,
Enrolando, à volta da Igreja da Conceição,
Descendo a Rua do Morrão…
Bem que os ouço os sinos tocando,
E o nosso riso, no largo “atrás-das-hortas”,
Correndo e gritando, aos morcegos:
…”Toma lá azeite! Toma lá azeite!...”
(E ainda não desvendei o porquê)
Ainda a sinto e vejo, a avermelhada bola de fogo,
Por cima do teto da ilha…
O sol a ser engolido p’lo mar,
E lá ao longe o ilhéu,  o canto do garajau,
Ainda ouço as despedidas,
E os “planos”, p’ra outro dia!
E o céu a escurecer, no alto da clarabóia,
Do meu quarto de menina,
Colcha branca e cor-de-rosa,
Fazendo crescer no meu peito,
Palavras para outra história,
Já tocaram as matinas,
E a bata branca enfiada,
Com não sei quantas listas,
Bordadas, na manga, levava,
Porta fora… Rua do Galo descida,
Praça Velha atravessada…
Subindo a rua da Sé…
Num pulo, no Alto das Covas,
Imponente, a nossa Escola,
Dum lado meninos, do outro meninas,
(No meu tempo, “era a moda”)!
E o cheiro ainda o sinto,
De “ponta de lápis, acabado de afiar,
Do tinteiro, que era branco,
E dos dedos a azular…
Do pátio, com um lago ao centro,
E dos corredores à volta, onde se cantava,
“No alto daquela serra... está um lenço a acenar…
Eu fui ao jardim da Celeste…Um abraço te vou dar…
Tanta laranja da China, tanto limão pelo chão,
Tanto sangue derramado dentro do meu coração…”
E jogava-se……
Jogava-se ás saquinhas de arroz…
Ás apanhadas… Ao gavião…
E jogava-se ás “piorrinhas”.
Com uma bola vermelhinha,
Que vinham embaladinhas, na caixa azul e vermelha,
Que “umas senhoras”, traziam,
E a que nós tão infantilmente chamávamos como
“Dia das Caixinhas”!
Perdidas no tempo,
Na memória guardadas,
E de ternura, entremeadas!
Onde as minhas tranças, que por “mon”,
Duma “gama”, se viram, cortadas?
E das tranças, passei a usar,
Corte “à la garçonne”!
Que “raio de ideia”!
Aquelas franjinhas!
E eu a pensar que da França,
Só vinham, eram criancinhas…
Eu, não!
Que vim na cesta de costurar,
E da roupa p’ra engomar…
Um dia destes, eu contarei…
Hoje, não!

Hoje, não digo mais nada….
Que as Trindades aqui já foram batidas…

E Trindades batidas,
Meninas “arrecolhidas”!

P.S. Falarei dos pirolitos…”ice-cremes” e malaguetas,
       Milhos de “Freira”… povides… e outras “tretas”!



15 de maio de 2012

COISAS DE SER-SE ILHÉU...


Vou atravessando a vida,
Com a ilha de permeio...
"Papejando" no meu peito... um coração marinheiro...
Ligo por entre os dias... nuvens... aves e "queimados"...
Vento Norte... E o mar é cheio!
Oh! minha estrada marinha,
Que no meu peito se empedra,
que no sonho se exalta,
E a saudade é uma cantiga:
"Maré Alta! Maré Alta!"
E este horizonte no fim,
Com" carneirinhos" rodando,
Fincam-se junto ao ilhéu,
E no meu peito sobrando...
Que mar-ilha e ilhéu,
Escola... Ruas.... travessas
Casas brancas... barras belas coloridas...
Saudades... promessas... lembranças...
E me acrescentam assim... na ilha que vive em mim,
Da ilha que vive em mim... Do que em mim...vive esta ilha...
Minha árvore e raiz..... Sempre serei sua filha!


Mari' Angra

31 de março de 2012

Em jeito de despedir...


 31/03/2012   8:45
Bebo o meu pingado no “Lava Preta” sito nos Biscoitos!
Queimo os últimos cartuchos, e tenho o coração aberto à partida,
Encharquei-me de mar e sal…
E volto à minha fria e inóspita terra que me acolheu!
Mas o que sinto neste momento é que:
Vou para casa”
Volto pra casa!
Pertencerei aqui, como as aves migratórias,
Mas o meu poiso definiu a sua morada…
E volto como uma menina ao colo de quem me ama,
Com um abraço embalado de saudade.
“Engraçado” o tempo de descobrir!
Esta já não é mais a minha dimensão,
Meu coração fez-se Beirão…!


19 de março de 2012

Por dentro dos Sentidos


(Ao antigo Grupo Coral da Conceição;
Ao meu companheiro, que faz dos meus sonhos verdades;
Aos meus primos, a família que me resta;
A vós, amigos, a restante família que adoptei mesmo que não quisessem!)

Se a saudade falasse e contasse,
Faria de novo um Coro,
E na voz trocada, feita Querubim,
Traria lembranças, saídas de mim!
Mas parado ficou, meu coração,
Tocado de orvalho, em bruma guardado,
Com cheiro de amora, gosto de Alfenim!
E nada murchou… Num tempo sem fim!
E pedi ao tempo:
“Não faças barulho”!
Mas o tempo passou, agarrou-me revolto,
Por vezes alegre, por vezes injusto…
E deixou-me ancorada… Num lugar sem nome,
Poisada nele…Num enternecer, de nunca esquecer…
Mas agora, eu sei! E riu baixinho,
Pois, que o tempo não sabe, de amizade, ou amor…
O tempo não sabe, nunca amou ninguém!
Que a saudade é o tempo de só existir,
Quando muito se quer, ou se lembra d’alguém,
E ter saudade, não é viver no passado!
Mas só ter vivas recordações,
Saber de vós… De cada um…
Nunca vos perdi! Hoje encontrei-vos…
E é uma alegria, que de tão alegre, até me dói,
Mas que me encanta, me deslumbra e me constrói,
E no regresso, levarei na mala,
A mesma saudade, com a simplicidade,
De não saber nada!
E por todos vós, os que estão e não estão,
No coração, um laço, apertado em nó!
E esta lembrança, que se fez alento,
E fará os dias, que terá o meu tempo!

19/03/2012  Mª José de Azevedo Ferreira
”Menina-de-trás-das-Hortas”



16 de março de 2012

Voando por cima das nuvens



 16/03/2012   8:45, hora de Lisboa


Mil pensamentos esvoaçam,
Olho a asa que voa e não voa…
Parada a nuvem ao lado… voadora!
A que se esbate ao fundo.
O zumbido contínuo
Que tento isolar,
É que me dá a sensação de estar a voar…
E vou encurtando
Por dentro o tempo, com diferentes horas no pensamento!
Estas são horas, que duraram meses,
Acordando… dormindo… progredindo!
À minha frente,
Uma tela mostra um mar e golfinhos,
Espuma e brilhos
Em louca cegueira
E de quando em vez… um buraco no céu…
Uma tremedeira!
Neste voo que faço
Em que trago cansaço,
Mas com este traço, entre a ilha e mim…
Cresce, cresce sem fim ou sem fundo,
A caminho “d’outro mundo”!


Vão dar-me chá… e digo:
“Até já!”



27 de fevereiro de 2012

"Amanhã" ( Por causa d’hoje)


Hoje vou lembrar tempos antigos!
Do barulho do mar p'las noites de temporal,
Do vento a assobiar pelo telhado...
Da luz do candeeiro a estremecer...
Do cheiro das maçãs-pêro, perfumando o chão do sótão…
Dos murganhos a correr…
Vou lembrar-me de meu pai…
“Alvaroços “ bem lavados… desperdícios pelos bolsos…
Saxofone a brilhar…
Vou lembrar-me de meu pai,
No seu ar risonho, acostumado!
Vou lembrar das sextas-feiras na Guarita,
Da tia Emília a cozer pão alvo,
No seu ar afadigado…
Vou lembrar-me dos suspiros… das filhós,
Da batata-doce assada e da farinha torrada…
E do gato a ronronar de descansado…
Vou lembrar-me do sino da Conceição a tocar…
Das traineiras a partir…
Do meu Fiel que acordou a ladrar…
De um foguete atirado para o ar…
Da limpidez de um céu estrelado,
Da bênção que pedia a meus pais…
Vou lembrar-me da avó Maria,
Das tia emigradas no Brasil,
E que da América, vinham sacas,
Com “roipas coisas e loisas”…
Vou lembrar-me dum Coro de jovens a cantar,
Da bandeja, onde punha a riqueza dum tostão…
Das risadas, engasgadas no Refrão…
Do Josézinho Sacristão… E do nosso Padre Adão!
E das “gamas e candins”, que guardava,
Na saquinha de retalhos,
Que a avó Maria fazia…
Já de olhos demorados…
Vou lembrar-me…
E amanhã… Num amanhã que há-de vir…
Ireis lembrar-vos tal como eu,
“Desta parte da vida”, que foi feliz…
Que me fez… e me lembrou,
Hoje, talvez…
Porque a memória assim o quis !

Viajante


Viajo no tempo,
E um cheiro forte,
Polvilha o caminho
De terra queimada
E trago histórias,
Adivinhadas,
E outras tantas,
Nunca contadas…
Sinto-me antiga,
No rosto cai,
Um tom de azul…
Um quase nada…
No meu querer …
A madrugada!
Rodou a maré…
E a maré, mudou o rumo,
E os “Porquês”,
Vieram juntos,
Pelas manhãs,
E milagres tinham no meu regaço,
Guardados bem,
Tornando a vida, em pedacinhos,
Largando aqui,
Ali… Além!
Fui sendo eu…
Não sei ainda… Não me deixei poder ficar,
Demasiado tempo… pousada na vida,
Faltou-me tempo,
Para voar…
Mas agarrar-me à vida,
Fá-lo-ei sempre… mesmo sem nada…
Tão simplesmente,
Porque me garante, a garantia,
De ser eu esta….
Sobrevivente!