17 de junho de 2012

Eu queria dizer-te...


Eu queria dizer-te pai...
Que embora não estejas, sempre estás...
Estás em cada gesto de Amor...
Em cada palavra delicada...
Em cada sacrifício.
Em cada lágrima,
Que escondeste e transformas num sorriso meu!
Eu queria dizer-te que cada estrela que brilha, é o brilho dos teus olhos!
Às vezes não sei dizer-te o quanto te amo...
Mas hoje os meus pensamentos, sorrisos e abraços, ternura e carinhos,
Irão ser um bouquet de flores, para enfeitar o teu coração.

E eu que já não tenho o meu aqui!
Sei que o tenho em cada coisa bela que a vida me mostra, porque foi ele, que me ensinou a vê-las...
Abraços pai !Onde quer que estejas!
Aqui ou onde o Céu não tem fim...
E não te esqueças nunca, que me orgulho de ti.

Dedicado a todos os PAIS...
Presentes ou ausentes, sabendo que é pouco,
Mas vem dum lugar onde as partidas não são definitivas...
"UM LUGAR CHAMADO CORAÇÃO"


Pelo dia do Pai, no Canadá (17/06), e transmitido pela voz de Josefina Azevedo, no programa "A Voz da Amizade", de António e Josefina Azevedo, na CHRW 94.9 FM, pelas 2,30h locais, também pela net em: http://www.radioluso.net/73.html



14 de junho de 2012

Pequena e mínima ideia…


Pequena e mínima ideia…
Asa pequena… nua,
Uma haste a segura,
Levo-a onde tudo explode,
E abraço-a
Onde as palavras existem,
Na dimensão branca do papel,
Deste rio de vidro e cristal,
Meço apenas,
O que cabe,
No único lugar vazio,
Da palma das minhas mãos!



Não me tirem as palavras...


Não me tirem as palavras,
Não me cortem estas asas,
Que minhas marés são de prata,
Flores de espigas soltas,
Como contornos de ilha,
O que tudo muda tudo,
Da minha vida marinha,
Escondidas nos meus braços,
Em laços, nós e abraços…
O muito que atravessa o mundo!
Deixem que o vento sopre,
E que eu galope nas ondas,
Deixando cair das mãos,
A negra terra vermelha,
De que me nascem palavras,


Resistem as lembranças!
A vida, não!



Lembro-me


Lembro-me que o meu coração,
Era uma borboleta,
Feita de cores orvalhadas,
Pintadas na minha pele,
Enrolei-me neste corpo,
Como se eu fosse seda,
E a borboleta puro espírito,
Desloco-me como as asas,
Que me habitam…
E lembro-me…
Que o meu coração era uma borboleta,
Ò mulher entre palavras!
Dentro de ti a borboleta é um frasco,
Cheio de água e sal,
A ondular-se como um rio,
Por vezes quente,
Por vezes frio… frio,
A morrer de travessias!


Eu só era


Eu só era o som dum búzio,
Eu só era uma espiga ao sol,
Eu só era um sussurro de vide,
Encostada a um muro,
Eu só era uma folha desprendida,
Eu só era aquela onda pequenina,
Eu só era uma raiz perdida,
Crescendo a pino no peito,
Unindo palavras à solta,
Eu só era fruto e som,
E um coração povoado,
Que esperava intensamente,
Que luzes se acendessem,
Mas surgiu esta pessoa,
Com um pássaro no peito,
E uma breve gota d’água,
Sem mais nada… sem mais nada!


Caso eu seja


E a terra à volta do sol…
Ou o sol à volta da lua…
A lua à volta da terra…
Ou o contrário todo,
Por aí, eternamente,
Numa dança graciosa,
Harmoniosamente tocante,
Cheia de voltas e encantos,
Coreografia genial,
Sem haver um só engano,
Sem passo que seja trocado,
A boiar nos intervalos,
Deste infinito mundo,
Cheio de vazio sem fundo,
E eu não sei coisa nenhuma,
Já que coisa nenhuma,
É nenhuma coisa,
Fico-me pela gaivota marinha,
Que sobrevoa as águas,
Num lugar qualquer…
Numa pontinha de asa breve,
Roçando a ilha… roçando,
Caso exista o lugar de eu ser gaivota!


12 de junho de 2012

O Não do Sim...


O não do sim….
O sim do não…
O não e o sim…
O sim que é não…
O não que é sim…
O não que é nim…
O sim que é só não…
O não que é só sim…
E sins guardados em nãos,
E nãos contidos nos sins,
Acenos antigos… sins pesados,
Nãos leves…
De sins sentidos,
 E nãos percebidos… sonantes… negados…
Em cada sim, começa o mundo,
Em cada não, o seu recomeço,
Que vem de nós e respira no verso,
Um sim nos afasta,
Um não, aproxima,
E mordo a rima…
Um não que afasta…
Um sim que aproxima…
Um não que é seta…
Um sim que é promessa….
Tanto sim em demasia…
Tanto não, que em vão regressa…
Um sim,
Ou um não,
O discreto percurso da vida… imprevisível…
Onde num sim ou num não,
Tudo é possível!

(Para quem me escutou… me percebeu… me ajudou...
E até adivinhou a “história do não e do sim”)

Um não!
E um sorriso Drª Cristina!



A invenção das coisas


Dão-me um ponto na linha da água,
Não tenho mais nada…
Se inundar este branco do papel,
Terei os silêncios que falam,
E o que fala será mudo,
Porque discutem heranças e posses?
Entre o céu e a terra,
Tenho tudo,
E a distância que se abre,
Entre o espaço do meu mundo,
E o lugar do meu nome,
Disfarça, e deixa à porta de mim,
O que me cerca de silêncios,
E me deixa,
Livre… liberta… assim…
E vem na voz dos búzios,
Sonoros sons da alegria,
E trazem o que é daqui,
E nestes confins do confim,
É-me dado perceber,
Que nada disto é p’ra mim…
Busco a voz que me alimenta,
Sal… maremoto… tormenta,
Não tenho nada a perder,
Com tanta palavra a crescer,
E dou por mim tão inteira,
Leio a sina, nos meus dedos,
Como vento que ondeia,
E recomeço de novo,
Como ave no seu voo!
Que mais querem sou assim,
Filha da maresia…
E desta vida… vivida!



Urgências


É urgente saber ainda...

Da Igreja da Conceição,
E do toque das matinas...
Da Escola à nossa espera...
Do Bus azul que vinha da Base,
cheio de risos... rapazes... meninas...
Do toque da campainha,
Da entrada p'la janela...
Em três degraus de madeira,
Ao corredor p'rá Cantina...
Do pequeno posto médico,
Encatrafiado entre o corredor interior,
E a sala das meninas...
Dos piqueniques secretos,
Com araçais e amoras, escondidas na Torrinha,
Dos "cognomes inocentes" ...
Aos nossos respeitados Docentes...
do brilho que tinham os Bailes...
do olhar atento das mães...
Da cumplicidade (já á altura)
Do Dr.Víctor Magalhães...
Das escapadelas furtivas...
Até ao Jardim e tanque do preto...
No começo dum namoro, desperto...
Ladeira de S. Francisco...
(Santo que é do meu pai...)
Onde é que isto já vai...
Lembranças... amigos lembranças...
Que fazem das nossas tranças, cabelos brancos, grisalhos…
Alegrias... sorrisos e ralhos...
Tanto que eu vos contaria...
Se mais hoje papel haveria...
Há coisas que já "me esqueço"...
Mas, voltarei... eu prometo...
Da Escola... e desse tempo...
Não se "me esqueceu" o endereço!



11 de junho de 2012

O nada...


Do nada que tem o nada,
Do nada que o nada tem,
Do nada que é tudo e nada,
E do nada que é muito tudo,
Há pouco do muito nada,
Há muito do nada tudo,
E o tudo mudou o rumo...
E o nada resiste e é fruto,
Doce, amargo,
Como só o nada e o tudo,
Ou o tudo que é o nada,
Ou o nada que é o tudo,
Até perder de vista,
A orla do meu futuro!

No nada que o nada tem...Que o nada enche de nada,
E te faz pensar que tens tudo...
Mas que é afinal... nada é...
.Se não um grande ou pequeno nada...
Que por ser nada... Ou tudo...
Te faz pensar... num "escudo",
Que é nada... mas está no escuro...
E dentro constrói um muro...
Feito de nada e de tudo...
E te deixa... por vezes só... por vezes mudo...
Sem explicação para tudo....
Que o nada e o tudo...
São tudo e são nada,
E te deixam calada....
Só... vazia... amordaçada...
E com nada e tudo....
Não possuis nada....
A não ser a palavra...


Ás tintas da minha amiga Zulmira


Um dia vou dar-te... um azul de mar que era cor de anil...
E pintava os sonhos como versos que eu tinha...
Hei-de encontrar o roxo... mais roxo da "nossa Saudade"...
E da nossa Lira...
Do branco da cor da crista da onda... leve como pluma de gaivota...
Do verde-verde dos pastos... que entra no olhar e fica...
Se o meu tempo não chegar... farei que te cheguem...
As cores por pintar... Eu estarei fora de prazo...
Mas não as minhas tintas...
Um dia pintarás com elas a porta... a rua... a casa...
A nudez da vida...
Entre cais... malas e vapores...
Cabelos... laços... fitas em desalinho...
Eu serei... a transportadora das cores a meio do caminho...
As palavras por vezes "desfazem-se"... nas correntes do ar...
Põe-nas "junto à mão", na expectativa do meu coração...



Ó coisas da nossa infância!


Bem que o sinto, o toque do vento,
O vento vindo do cais,
Corpo Santo, acima trepando… assobiando,
Na curva da casa do António,
Enrolando, à volta da Igreja da Conceição,
Descendo a Rua do Morrão…
Bem que os ouço os sinos tocando,
E o nosso riso, no largo “atrás-das-hortas”,
Correndo e gritando, aos morcegos:
…”Toma lá azeite! Toma lá azeite!...”
(E ainda não desvendei o porquê)
Ainda a sinto e vejo, a avermelhada bola de fogo,
Por cima do teto da ilha…
O sol a ser engolido p’lo mar,
E lá ao longe o ilhéu,  o canto do garajau,
Ainda ouço as despedidas,
E os “planos”, p’ra outro dia!
E o céu a escurecer, no alto da clarabóia,
Do meu quarto de menina,
Colcha branca e cor-de-rosa,
Fazendo crescer no meu peito,
Palavras para outra história,
Já tocaram as matinas,
E a bata branca enfiada,
Com não sei quantas listas,
Bordadas, na manga, levava,
Porta fora… Rua do Galo descida,
Praça Velha atravessada…
Subindo a rua da Sé…
Num pulo, no Alto das Covas,
Imponente, a nossa Escola,
Dum lado meninos, do outro meninas,
(No meu tempo, “era a moda”)!
E o cheiro ainda o sinto,
De “ponta de lápis, acabado de afiar,
Do tinteiro, que era branco,
E dos dedos a azular…
Do pátio, com um lago ao centro,
E dos corredores à volta, onde se cantava,
“No alto daquela serra... está um lenço a acenar…
Eu fui ao jardim da Celeste…Um abraço te vou dar…
Tanta laranja da China, tanto limão pelo chão,
Tanto sangue derramado dentro do meu coração…”
E jogava-se……
Jogava-se ás saquinhas de arroz…
Ás apanhadas… Ao gavião…
E jogava-se ás “piorrinhas”.
Com uma bola vermelhinha,
Que vinham embaladinhas, na caixa azul e vermelha,
Que “umas senhoras”, traziam,
E a que nós tão infantilmente chamávamos como
“Dia das Caixinhas”!
Perdidas no tempo,
Na memória guardadas,
E de ternura, entremeadas!
Onde as minhas tranças, que por “mon”,
Duma “gama”, se viram, cortadas?
E das tranças, passei a usar,
Corte “à la garçonne”!
Que “raio de ideia”!
Aquelas franjinhas!
E eu a pensar que da França,
Só vinham, eram criancinhas…
Eu, não!
Que vim na cesta de costurar,
E da roupa p’ra engomar…
Um dia destes, eu contarei…
Hoje, não!

Hoje, não digo mais nada….
Que as Trindades aqui já foram batidas…

E Trindades batidas,
Meninas “arrecolhidas”!

P.S. Falarei dos pirolitos…”ice-cremes” e malaguetas,
       Milhos de “Freira”… povides… e outras “tretas”!