17 de abril de 2013


Há horas que se encurtam,
E me fazem inteira,
Há cheiros do tempo,
Que me ensinam silêncios,
Há luz que sorri ,    corada,
Entrelaçada na cor da palavra,
E há memórias,
E rostos,
E há águas e fontes,
Há céus e nuvens…
E estrelas cadentes,
Caindo na alma das gentes,
Como fogo pelos montes,
Há chegadas,
Partidas,
Nas estações que desembocam na vida!
E as minhas palavras, são só
Como orvalho,
Que não receia “nascer molhado”!


Hoje por terras do Alto Paiva



O poema é a palavra soletrada,
Iluminada....
O poema é o vento nos cabelos,
A urze no monte florindo...
E para além do monte: O mar ,
Na berma do meu caminho,
O poema é a palavra crescendo,
Dentro do que em nós nos transcende...
É a gota de orvalho,
A lua fora d'horas,
Poema é a palavra limpa,
Que alinho e desalinho,
Só porque nasce , sentindo... surgindo!


27 de março de 2013

“Brincando com a chuva”


Água que chove,
Chove que chuva,
Que molha, satura,
E dura… perdura,
É tanta, e já cansa!
Que venha um sol,
Um céu azul,
Uma nuvem branca,
Que sem água flutua, balança,
Me aquece e me espanta,
Na diária esperança,
Que mal nasça o dia,
Se tenha enganado a meteorologia…
:-)


25 de março de 2013

Relembrando...


... E há tristezas, que se soltam de lugares secretos... e nos navegam os gestos... e embriagam os olhos...
E é um grão de areia... em poeira de luz clara...
Onda de mar... tocando a face de sal... e o corpo da alma tem um sabor exausto... como um infinito parto...
Afago a vida, para comandar o sentido das coisas...
Enroscando-me, na minha concha de "lapa burra", para brilhar de madre-pérola...
É preciso dar ocupação à "ave que magoada por vezes voa em nós"... num minuto de cinza...
E peço ao vento que leve tudo... ao vento que vem da Nave... cortado, frio e rápido...
E tenho mil sonhos na minha mente "descrente-crente", nesta aventura de ser: Eu!
E esta emaranhada teia, escrava nas minhas mãos, plantando palavras que redescubro, nesta dimensão...
Todo o nada me toca... e é tudo... dona de tudo... sem nada ter...
Simplesmente porque num minuto talharam em mim este "sabor de sempre"...
E entro pelas frechas de mim, por onde escorrem as minhas lutas "enlutadas"...
E ás vezes, sou "menos eu", em viagens, mil vezes adiadas...
Desta que em mim faço nascer... "empoemamdo-me" a esta entrega, a que livre me "condeno"!
E continuo de coração descalço, sobre a vida!
As palavras "estão por um fio"...
Fico por aqui!

21 de março de 2013

21 de Março, chegada da "Prima Vera"

... No dia mundial da poesia!

Palavras que são soltas,
Como vento - onda - asa,
Alegria, desventuras,
Palavras vestidas ou nuas,
Palavras cantadas… rimadas ou não,
Palavras construídas por dentro…
Palavras de amor e de amigo!
Palavras que são como abraços - laços - beijos…
Palavras que lidas
Têm cor, som, melodia…
São palavras!
São sentidos!
Uma rosa que é botão,
Um botão que é rosa e adorna o coração,
Um campo em flor
Que em verde se torna
E é esperança ou é trigo…
Uma palavra presa á alma por um fio
Tão profunda, secreta
E em constante alegria...
É palavra ou é sentir a que chamo poesia!

8 de março de 2013

Há dias para tudo!


"Há dias para tudo"!
(Não é que "ache muita graça")

Mas deixo só um ligeiro odor, do que eu penso... sinto e sei!

Hoje o meu respeito,
Pelas mulheres, que no silêncio, e na solidão,
Criaram os seus filhos,
Que trouxeram no ventre, no peito,
Foram mães, deles... dos seus pais... irmãs...
Por vezes duma família inteira,
Pelas mulheres que aguentaram firmes,
Palavras duras... Gestos agrestes...
Uma dor apertada no fundo mais fundo do coração,
E fizeram de conta... Que não!
E o não que mostraram,
Nem foi entendido,
Num sorriso, agradecido...
Pelas mulheres, que se desdobraram,
E personificaram as "personagens",
Que "não lhes competia",
Mas que o Amor exigia!
Pelas mulheres em que o sol ainda não, nado,
Seguiam p'rós campos,
Filho na mão, outro no colo,
Entre o semear, o regar…
Dormiam sonhos, estes meninos,
À sombra das "marinheiras"...
E os panos corando pelos lameiros... Anos inteiros!!!
Pelas mulheres, que não tiveram palavra e guardaram a voz...
Pelas mulheres, que restaram sós,
Começaram de novo, atando nós...
Tantas são estas mulheres...
De quem falo, e conheço!
Para elas o meu apreço!
Pelas que nunca tiveram na vida,
Uma palavra agradecida!

Parece "triste", esta mensagem… mas do que vos falo,
É da "mulher-mãe-filha", coragem!
Ah! Mulheres do meu País...
Ah! Mulheres da minha terra...
O mundo que em vós se encerra!



















Todas nós entendemos, todas temos olhos... ouvidos... sentires...
Por vezes, "fazemos de conta que não", dá mais jeito...
Eu teria acrescentado muito mais, ao que escrevi...
Ás vezes devemos "desnudar verdades", para se chegar à clareza!

7 de março de 2013

Inverno na Beira


Está de luto o céu da Beira...
O casario, acinzentou-se...
As árvores nuas, tremem de frio...
O termómetro insiste em descer...
A luz dos candeeiros, é de um amarelo roçando o triste...
Da Serra da Lapa, correm as névoas lancheiras, adivinhando, tailhões d'água... trovoadas...
O vento assobia pelas chaminés!
Só falta o "estrondo do mar"!
Que venha essa prima, que é "Vera"...!!!!
Que Março corre na folha do calendário, pendurado na parede da cozinha...
E os meus olhos querem sol!...
Agradecia, "S. Pedro"!
Bem-haja! Obrigadinha!
Um raiozinho, que seja, e me alegre a "moradia"!


5 de março de 2013

A palavra "Ilhéu"!


Do branco mais branco,
Que enreda a onda,
Que envolve e molha...
Do toque salgado,
Que abraça as rochas,
E refresca o rosto...
Por dentro de mim,
Abrem-se braços,
De longas mãos, esguias, largas,
Abertas... Fechadas...
Que em concha cedo,
Me transformaram...
Perdida, encontrada,
Num bater de vaga...
No pé, na pegada,
Da areia negra, rasa, molhada...
Que sou "gente das ilhas"...
De outros lugares,
Saberes, sabores,
Sentires, odores...
E em serranias me achei encontrada...
Que dum horizonte,
Dia após dia, nascido na água...
Fui-me fazendo... meio peixe… meio ave
Ou semente de fruto
Que à vida se abre...
Porque ilhéus são gente que nasceu resistente!
Coração dividido, entre céu e mar,
Transbordando de tudo, que "dá p'ra pensar"
E é desta harmonia,
Que a palavra: Ilhéu... É só poesia!

Mizé
(Para um Ilhéu-Terceirense, que hoje faria 99 anos, de nome Francisco... A quem agradeço o que sou e o ter-me dito: Escreve! Escreve!)



12 de janeiro de 2013

Chuva


O dia amanheceu a chorar...
Não sei porque chora...
Mas é um choro, cor de chumbo...
Como os dia na ilha,
Que nos sufoca, o ar que se abate,
O peso do céu, por cima de nós...
O longe ficando mais longe...
Transportando por dentro um gosto de solidão,
Desoladamente...
Embrulho-me neste xaile, de palavras,
Deixando só que saiam sentidas,
D'um lugar dentro de mim,
Que não tem nome que se escreve,
Chora este céu!
Um choro perdido...
Derretendo a neve...
O encanto da branquidão...
Enquanto por dentro, deixo transmudar-se,
Em ampulheta o meu coração...
As horas contam-se...
Por vezes pequenas...
Por vezes grandes...
Ou são ondas largas...
Ou contas contadas...
E a casa da vida...
Roda no ar...
E deixo que o choro,
Deste céu que chora,
Encontre em mim,
O seu lugar
E o que em mim é ave ou asa...
Tornou-se... saudade... lágrima...
Casa!!!

London, ON


10 de janeiro de 2013

A teia que me amarra...


Mais um braço de teia que se estende... se desprende...
Me desamarra e amarra...
E o fio da teia é luz... que ilumina e me ata e desata...
Mais um dia, que se faz menos e mais...
E entorta o sentir... que a saudade...
É como asa... borboleta... gaivota... ou pardal...
E na teia que me prende... vou criando laços...
Que solto e ato...
Porque viver... como pássaro... ou ave... ou "coisa que voa"...
É demais!!!!
(Solto a corrente do tempo, que no meu peito ecoa!)