15 de outubro de 2010


      Um agradecimento especial ao meu amigo, poeta e escritor (jornalista em "descanso"), pelo belissímo poema que me dedicou, no seu já quase a sair Livro de poemas. Tão belo o teu "engenho poético"... 
Vou deixá-lo aos amigos...

21 de agosto de 2010

“Bichos e Animais… e outras coisas que tais…”



O que vos vou deixar hoje, não é história que se conta para fazer passar o tempo, mas é história que monta a tempos que não tem tempo…

Vi chegar certo cachorro, já lá vão uns 15 anos,
Trazido p’las mãos de um menino…
Ruivo de pelo lustroso,
Orelhas de ondular, caracóis a dar a dar,
Cabeça larga, com porte
E no peito, a esvoaçar,
Assim em jeito de juba,
Branca e dourada, bem peluda,
Pelagem esvoaçante,
Num andar bamboleante,
Olhar doce, esperto,
Põe a cabeça de lado,
Escuta com atenção…
Meigo… trôpego, trapalhão!
Dá a pata e rebola,
Da três saltos pela bola,
Salta nas patas da frente,
Com tal graça e picardia,
Que me faz sempre lembrar,
“Cavalos de cortesia”
Toma banho tão quieto,
“cabisbaixo”… obediente,
Mesmo batendo o dente!
Depois: toalha no chão,
E basta somente dizer:
“limpa e esfrega!”
Que o inteligente animal,
Corre o páteo em vendaval,
Tronco envolto na toalha,
Patas de trás a empurrar
Limpo e seco assim sozinho,
Fica o cachorro “a brilhar”!
Não se queixa nem lastima,
Teve uma vida de cão,
E agora “de cão”, boa vida!
Não culpa, não rosna, não cobra…
Em olhos de agradecer
Recebe-me sempre contente
E só feliz por me ver,
Anda á minha volta, rebola
Toca-me com uma das patas,
E faz-me sempre pensar:
Que se mais gente houvera
Com comportamento tal,
Assim belo, incondicional,
Por certo a humanidade,
Seria “bem mais normal” (?!)
Quem me recebe sem perguntas?
Quem me acarinha sem esperas?
A quem ralho e digo:
Pára Alex, tu maças!
E em troca recebo “graças”!

E tudo isto porquê?
Uns pensam, outros dirão…
Quanto a mim: 
                Quanto mais conheço “gente”,
Mais gosto deste meu cão!

A este “velho companheiro”, que adoptou a família inteira!
Mi, Manel e Mizé

19 de agosto de 2010

"Confabulando"...



..."Felicidade" é um fruto que se colhe da "Felicidade" que se semeia...!

...Lança "boatos e injúrias", ao cesto do esquecimento... Uma moradia claramente limpa, reclama a presença do "esgoto"...

‎...Não percas o tesouro das horas... e constrói por dentro do teu próprio ser, o abrigo do entendimento que solicitas, para sentires segurança, e irradiá-la de ti!

Aceita e estima as pessoas, como são, não exijas que elas se "façam" ao teu jeito...!
...Haja o que houver, transmite confiança e "bom-ânimo", porque, alegria, é talvez a única dádiva que és capaz de ofertar sem possuir...
...As nossas palavras podem ser, "pancadas ou afagos", e é o uso dessa força que equilibra, ou desequilibra, o que em nós se obscurece ou ilumina, nos ergue, ou nos abate...!

14 de agosto de 2010

O lugar do coração


Hoje passei por aqui, não para "construir" palavras...
As que eu quero dizer hoje, são as que o coração planta e semeia...
Hoje passei aqui para dizer que amanhã é quinze de Agosto...
Para ti, que acaricias as palavras, recebo-as, uma a uma, e que ás vezes me ficam por dizer, mas que nelas escreves, estou aqui, podia chamar-lhes vida...
Mas chamam-se, amor simplesmente!
Ao meu companheiro, por ver comigo as árvores florir, o vento que as despenteia, o sol que as torna sombra, por tudo, em cada dia novamente, num abrir e fechar de olhos, onde tudo é diferente.
Para ti, silêncios, perfis de lagos, cetins, sedas, afagos.
Longuíssimos são os braços dos abraços, que teus olhos fazem laços.
Da tua doçura, faço um canto que adormece, ou palavra que entontece!
Que a vida nos seja doce!
Nas coisas que "nos abalam", e no par de olhos que esvoaçam por nós, pintando a vida... com cor de romã... (Um beijo parado na tua memória, penteio uma flor, num jeito de quem escreve uma carta de amor ) ( )  :-)
As manhãs abrem mil sentires...
Que os teus gestos vão tecendo...
Coisas de ave, que crescem pelo lado de dentro de nós...
Levanto da alma palavras de aves e amoras, e dou-te o nome de um astro...
De me iluminar por dentro...

11 de julho de 2010

Palavras


Há palavras "certas" para poesia?

Toda a palavra é poética...

Não há palavras "feias" e "bonitas" na poesia...


Não há mais que palavras vivas e palavras mortas, palavras verdadeiras, ou palavras falsas.

O que importa é que se construa uma harmonia perfeita entre a inspiração, por um lado, e a expressão, por outro...

E no nascimento delas ter o nascer de uma ave...

Uma lágrima ajoelhada...

Um coração aveludado...!

Serão "coisas" que o sol faz sentir?


... Sorvedora de silêncios e sentires...

Se não fosse assim, já não era eu...

Fiquei nesta dimensão...

Percorro a vida sem pertenças...

Restam-me as palavras, para pensar nisso...!

Esta fresta de mim aberta nos dias...

É um labirinto!

Quem me dá um pássaro de vento...

E cante comigo...

Os olhos que tudo abraçam, no peito a que tudo falta...!

Que coisa esta de por vezes se estar cheia de vazio!



http://docecomoachuva.blogspot.com/

2 de junho de 2010

Dias de meditar

  
As mãos esquecidas, no sossego brando da vida, numa paz sem tormento, que põe nos olhos o fulgor que os nomes e os livros não dizem.

Ando a ver se não perco a emoção que retempera, o consolo que devolve a luz à voz.

O cansaço que avassala o espírito não tolhe a inspiração, mas interrompe o sonho…

Ergo as palavras no silêncio das mãos.

E fecho-me nelas pelo lado de dentro,

Com as chaves de um entendimento brando,

As palavras tem assim luz própria, como uma estrela,

Ou uma comunhão de pétalas…


Quando os cântaros do céu se entornam e as aves tentam roçar a lua

 
Habito do lado dos que misturam
As nervuras com cetins, e assim as fazem rimar
Numa magia profunda… densa,
Que aglutino e condenso em mim…
Janelas por dentro se abrem,
Brilham e nascem as letras…
Dançam… Pensam…
Tornam-se o reino das coisas,
Onde tudo vem por dentro
Dum lugar varrido… limpo.
E emerge, cresce subindo
No caule do fio do pensamento,
Esta minha moradia,
Na pura e simples nudez
Com que se veste o coração
É assim, encostada á vida.
A minha morada de hora imprecisa
Perde-se em sonhos, inventados da mente
Trazendo-me á boca raras palavras
De que raro falo,
Porque ser-se assim é por dentro!

31 de maio de 2010

Raizes de mim!

Se a saudade fosse coisa...
e não fosse coisa bela,
sem ser coisa percebida, seria assim, de tão bela?
Na memória, molha-me a história,
ficando eu maresia,
longos braços... dedos d'água...
toque de verde... pasto... trigo...
mar chão, lua clara,
desfeita espuma na areia,
ao lado de mim poisada,
esta ilha... a vida inteira!
Apoderou-se de mim,
em água de sal marcada,
por detrás do meu olhar, tocada de leve... intocável,
minh'alma de marear...
Terra... ilha, meu torrão...
meu berço, casa, guarida...
minha marca a ferro, fogo gravada,
ontem, hoje... muitos dias,
Toda a vida!


28 de maio de 2010


E pertenço á ilha... sinto o perfume dos tons... os cheiros do ar...
Sei que as ondas tem o linguajar dos países... escuto a conversa dos búzios... o silêncio táctil das conchas...
Não procuro a razão desta pertença, quero só o feitiço de pertencer-lhe!

Confabulando

Ó minha vida entornada... meus olhos de marear... meu coração sobre o mar!
Quero ser pássaro no verde, num sono que em ilha me afogue... consciente e repousada... leve, lisa... asa pousada... onda leve sobre a água...
Circulando em maré-cheia... segredos urdidos na veia...!

Hoje estou cansada de pendurar estrelas no céu... vou tecer uma teia de silêncio com gotas de azul e mar... e encontrar o lugar d'o sossego não ter fim...
Quem derramou no chão a voz de "ser poeta", do pouco que há em mim?!...


quaseinteressante.blogspot.com

21 de março de 2010

Janelas de sonhos



 (Surgiram-me estas palavras ao ver as janelas sonhadas de Silvina Santos)


Nas suas mãos nascem teias,
Nascem cores, nascem laços e janelas,
Nascem frutos com sabores,
Emoldurados com sonhos,
De sonhos emolduradas,
Nascem aves, flores, rios,
Balões, baloiços e risos,
Sóis, borboletas, crianças.
Que vem vindo, chegam, espreitam,
E encantadas se sentam,
No teu banco de xadrez,
A imaginação ganha asas
Torna os sonhos em palavras
De histórias emolduradas,
Nascem casas, rostos, lembranças,
Porque nos seus olhos se espraia
A magia das crianças!
Vejo-a assim a criar coisas,
Assim como num pedaço de horta,
Onde por mãos de doçura,
Tudo brota! Tudo brota!
 

Poesia na EB2-3 de VNP

Só um cheirinho...

Saudade
A saudade é cinzenta,
É amarga,
Cheira a fumo,
É muito fria,
Tem o som da chuva,
O movimento dos lenços,
É pesada e faz-me sentir triste!

(Nuno 6ºA)

http://creardigital2.blogspot.com/2010/03/janela-dos-sonhos.html

"Calema" no dia da poesia...


Obrigada pelo que nos deixaste para saborear.

http://jcalema.blogspot.com/2010/03/dia-da-poesia.html

20 de março de 2010

Cousas da “nossa terra”


        No sossego da manhã, enluarados estão os campos...
       Maria e Tónio, erguem-se. Sentada na beira da cama, ela faz a trança ainda negra, enrolando-a num “poupo”.
       - Mexe-te mulher!
       - Credo, home, inté parece c’anda o fogo cá drento, devagar, se começa o dia, bai mas é tirar o bibo, q’eu inda bou à cozinha buscar a bolça da merenda, e a ti Ana do Arrocho inda não chamou p’la gente.
       Descendo as escaleiras , tónio tira o bibo, abrindo cortes e cortelhos.
       - Já te disse, Maria, o raio das pitas só m’impecilham.
       - Cala-te, home, qu’inda bão dando uns oibinhos.
       - Já disse! Num quero cá desse gado, vai-te lucro que me dá perca... E as vacas trazem cá uma esgana por causa do raio das pitas...
       Manhã fora, juntam-se como tufos de flores na Primavera, rios ondulados, caminhando que a leira é grande e há que sachar o milhão.
       Maria ri, sentada a canchas-pernas na burra.
       Como uma seara baloiçando, os corpos baixam-se, sacham, limpam, e cantam:
               P’lo mar abaixo
               Vai um piparote
               Se ele tiver vinho,
               Tirai-lhe o batoque.
       Hora do meio dia, na casa de um relógio medido pelo sol.
       Nos rostos tisnados, em mudo consentimento, rezam e juntam-se á volta do castanheiro.
       Hora pequena, apetecida...
       Saindo das bolsas salpicão e presunto, nacos de broa, tirando todos da mesma malga esgaritada, mãcheias de azeitonas, entornando goela abaixo, golos de vinho do molato.
       - Ora bão bendo, a chiba da ti Questódia Ferrolha anda a roer os gaimões.
       - Cala-te, quinda a somana d’alem, a levei ao preto da ti Maria Chamiça e olha qu’é um chibo bô.
       - Diz que está comá bitela do Morcas, inté já lá foi o emprenhador e sabeis o que diz o home? Diz p’ra lhe dar umas inchechões.
       - Credo, Santo nome de Jesus, como é qu’áde a chiba imprenhar com inchechões?
       Maria olha o sol, e corta aquela conversa de vidas diárias que se repetem.
       - Olhe ti Questódia, coma mas é o presuntinho e beba mais uma pinga, qu’a leira inda nem no meio está e vocemecê, bem sabe que o milhão precisa sachado...
       - Cá m’importa c’o milhão, ou c’a milhoa, qu’ando morrer bou deitada...
       - Ó ti Questódia, vocemecê também me saiu cá uma doletra!
       Estrada fora, partem ao toque das Avé-Marias. Cansados, despedem-se, indo acomodar o bibo.
       Noite já, Maria ainda vai à horta apanhar um braçado de caldo prós porcos.
       - As coibinhas já só tem olho, a sequeira é tanta! E não chobe, que miséria vai ser este ano...
       - Deixa lá mulher, Deus bem sabe o que faz, bai mas é fazer a áuinha d’arroz, e bamo-nos deitar, c’á manhã temos d’ir cortar o feno, lá pró inferno das Zaroteias.
       Espaço próprio, impossível de repetir-se, são as aldeias Beiraltinas, cantos do mundo, fora do tempo.
       Do lado norte da vida, a terra é casa, paz e morada, é ali que se prolongam os dedos, a alma... rítmicas raízes.
       Terra, anca fecunda, deste suor que sorri, porta extrema do amor e da memória, e na casa do peito, uma urgueira florindo, tocando o sol-posto num toque de finados.
       Secreta retina, com a terra, como irmã ou filha à ilharga.

19 de março de 2010

Março, 19...


(Mais um habitante na ilha) 


As marés rodearam-me

Tenho no coração um colar de oiro     líquido

Água a boiar       nenúfar cor de céu

A alegria e as palavras de encantar existem no lugar onde me habito!

14 de março de 2010

O meu horizonte molhado visto da minha janela



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Ilha é este gesto que abro nos dedos,

Em marés coalhadas de água e sal,

É roçar o sorriso no gosto do mundo,

Quando no peito nascem asas

E flor á pele dos sentidos, gaivotas,

Ilha, gota de terra, que desmaia sempre...

7 de março de 2010

Tia Adelaide (Tia Baida)

     
       A uma mulher extraordinária que habitou a minha infância, e que do mundo mágico que era o seu quarto, do alto do leito que a aprisionava, da sua cama de dossel, ensinou-me que não existem grades quando na imaginação temos asas, no pensamento aves, e nas palavras encantos.
       Que bom ainda é fazeres parte das memórias da história da minha vida...!

       Abria-se na vidraça um rastro de chuva os olhos semeavam silêncios, na rua o caminhar pacífico de quem tem e conhece todos os caminhos.
       Nunca um olhar foi tanto gente!
       Baida fora bonita (ainda o era) tinha percorrido os caminhos da vida com sabedoria, cheia de leveza, cabelo cor de vento, emprestando sons e rituais à sua voz ... e sabia coisas e contava histórias e ria num riso sorriso...
       No canto do mundo que é a sua terra, Baida era uma poalha de estrela.
       A cortina caiu.
       A vida era estranha e magoada... um homem de branco... dois médicos... trinta médicos... e Baida sorria ainda.
       Passeou dentro de si aquela dor de não mais correr, não mais saltar. E a alegria ainda coube no peito dela.
       Retirei-a breve, num poema gerado, eu, de pele porosa... um campo feito... um sobressalto, retomei-a nos dedos cobertos de sal e numa asa, laço de amizade digo-lhe.
       Que é nos seus olhos que habita a vida, ressalta, explode, brilha, comunica e envolve.
       Ela mudava a cor da parede, o lugar da mesa, talvez do quadro, podia mudar tudo, rejuvenescendo a paisagem que tinha dia sim, dia sim, sentir viva e nova para respirar.
       Passaria o tempo contando as flores da almofada que adornava o sofá...
       Ouvindo Beethoven e Bach... ler, conversar...
       Mas quem lhe dizia que tinha duas estrelas no fundo dos olhos, dois lagos sem fundo. E eu, correria louca, inconformada, aprendi dentro deles o verbo esperar, a regar o tempo como flores sedentas com mares de calma e sal.
       Caí no tempo, agitei-me, tentando reunir o sentido íntimo que já tinha adormecido nos dias de turbilhão.
       Toquei-me de palavras caladas e silêncios gritantes.
       Valia a pena.
       Viver só, é duro, viver na penumbra, dói, calar, mata!
       Baida no espaço do tempo dividido em quatro estações, tinha uma outra estranha, mas maravilhosa estação. É pois assim, Baida e o seu quarto, ondulando na esperança dos adultos-meninos que ainda sonham.
       E digo que a ilha e o quarto serão para Baida a minha hortênsia florida, o círculo do sereno existir.
       O mundo da Ilha dos Bravos, cristalizado no mundo dela!

       E tal como ela me ensinou, a melhor maneira de aprender a escrever, é escrevendo, não importa tarde ou cedo... Deixo pois a promessa de vos vir a contar todas as histórias que duas crianças viveram com enorme magia e cumplicidade, orquestradas e “dirigidas” unicamente, pela imaginação e vivacidade desta mulher, que tinha a sabedoria de saber existir.


(anaicfer.bloguepessoal.com)

21 de fevereiro de 2010

Desculpas de Março


       Amor, são milhões de pequenos instantes e gestos que se juntam para construir algo tangível...

       (a Maria das Dores Ávila Barcelos)

        Os dias caminham apressados para Março e lembrei-me que estavas à minha espera, com o teu doce de figos, luzidio, brilhante, dentro dos frascos... mas não cheguei a tempo...
       Dos figos, lembro o teu sorriso.
       A ave que habita dentro de mim, não poderia ter adoptado melhor “mãe”, (ainda quero acreditar que no céu se pode ler).
       São só desculpas de Março...
       “Mizé Capelo Gaivota”


cantododesconhecido.blogspot.com

20 de fevereiro de 2010

Palavras para contar

pelo que despertam em mim as crianças

Saltitão ou coelho,
           Ou
Coelho Saltitão


O coelho saltitão
Saltava ali pelo chão,
Pelo prado, pelo serrado,
Era um coelho dourado
Dourado e espertalhão,
O coelho saltitão,
Saltava e procurava
Uma cenoura alaranjada,
Que já na horta espreitava,
Com uma rama folharuda
Verdinha, clara e escura,
E debaixo dessa rama
Quase, quase a despontar,
O que o coelho queria
Era um saboroso jantar!
Nem pensava na raposa,
Que de rabo “pelachão”,
Gostaria de trincar
Um coelho saltitão,
Apanhou a tal cenoura
E do jantar fez manjar,
Comido como um festim,
E assim vai acabar
O que pelo jantar se finar
Fez desta história,
O seu fim!

18 de fevereiro de 2010

D. Óscar, "O muitas vidas”

(O gato que é meu vizinho)

Mia o gato, mia, mia,
O gato das suas donas,
Encontrado por acaso,
"Todo roto”, esfarrapado,
E com ternura adoptado,
Passaram dias e meses,
E atrás destes anos sem fim,
Mia o gato, mia, mia,
Nunca vi um gato assim!
Come patê e puré,
Carne picada e assada,
Faltam-lhe metade dos dentes,
Que maçada, que maçada!
Tem uma cama vermelha
Forrada a manta lavada,
Cheirosa e perfumada,
Tem guizinhos e pompons,
E uma bola de brinquedo
Dorme sonecas à tarde,
No quentinho e no sossego.
Mas mesmo assim já velhote
Não se fica pela casa,
Pela noite vai á rua
E mia às gatas á lua,
Não lhe sabemos idade,
Tem muitos, bem à vontade.
Mas nós gostamos de vê-lo
Deambulando por noite,
Nas suas vindas e idas,
Este gato “alaricado”,
O Óscar das sete vidas!

14 de fevereiro de 2010

Coisas que dão sol ao dia


       “Coisas de Poetas...
       Olá, Querida Zé,
      Talvez bem poucos, como tu, me conheçam tão bem quer literáriamente (existirá este termo?), quer humanamente, e o inverso também é verdadeiro. Se, realmente, existem "almas gémeas" acho que nós o seremos.
       Este pensamento é bem visível no teu comentário...”

       Do meu amigo jornalista, escritor, poeta, homem dos mil ofícios, deixo aqui hoje para aqueles que gostam de saborear o sabor que nem todas as palavras têm, este “endereço”, acreditem que vale a pena, garanto-vos, que isto de palavras com sabor ainda vou percebendo um pouco...

10 de fevereiro de 2010

Segredos de “pé-de-orelha”

À minha avó Maria que me ensinou que o segredo pé-de-orelha era o que se dizia baixinho ao ouvido, e jamais se repetia.

Ao ouvido em surdina
Sussurrado, murmurando
Diz-se segredos, “mexericos”
Bem baixinho, segredando,
Vão dizendo: guarda, guarda!
Não contes nada a ninguém,
Se o contares fico triste
Mesmo que contes a alguém,
Alguém não é qualquer um
É pessoa especial,
Mesmo assim, vá lá, não contes
Deixa lá que não faz mal,
Um segredo que é segredo,
É um segredo guardado,
No coração bem fechado
Sem fechadura nem chave,
Só entende lealdade,
É que um sussurro murmurado
Ao pé-de-orelha escutado,
Vai-se o segredo levando
E assim fica comprovado,
Que um segredo murmurado,
Em pé-de-orelha escutado,
Não é segredo guardado,
Não vale cruzes na boca
Nem fazer figas com os dedos,
Tudo se evapora no ar,
Pra quem não guarda segredos,
Chega um de cá, um de lá
Um alguém, outro que vem
E o murmúrio murmurado
O segredo bem guardado
Já foi pelo vento levado!

9 de fevereiro de 2010

Bichinho Geográfico

       (O porquê da lengalenga do bicho-de-conta)
      
       Bicho de conta, sou eu, escondendo o lado do avesso, enrolando o lado de fora.
       E desta conta que sou, abro frinchas pra que saiam , passos, contos, histórias doces, enternurando a voz, quando é a vez de contar. Verbalizando-as, são únicas, de um tempo que terá sempre o seu tempo, um tempo para ensolarar.
       Seu nome de Nicolau, Saraiva nem sei porquê! Era um bichinho-de-conta, andava sempre a enrolar.
       Sua mãe era Dona Conta, Dona Conta de Contar.
       Brilhante, luzidio, este bichinho cinzento, que sabia rebolar era feito em “dobradiças” assim pela mãe natureza, mas com perfeição tamanha que dir-se-ia, que ao ter medo e ao enrolar-se até parecia façanha. E era assim tal e qual. Igual não conhecia, e de bichos e bicharocos, conhecia eu a rodos.
       Mas deste bichinho de conta começo-vos agora a contar:
       Certo dia, num daqueles em que brilha o sol no céu, apetece manga curta, uns calções e perna ao léu, havia eu de descobrir para meu perfeito pasmar, que um bicho que é de conta, não é só bicho de contar.
       Maria que era das Dores, Dorzinhas chamava-a eu, veio a correr, coradinha, esbaforida, cabelo curto, ondinhas largas, como as do mar espraiadas, pequenita, olhos azuis, azuis como dois lagos, ou como a cor da estrada estrelada, em que os anjos se passeiam, sem se importar com mais nada.
       Tinha lá, isso tinha, um arzinho angelical, mas combinando comigo, dava uma mistura infernal.
       Olhando-me diz-me ela, num jeito que espevita a curiosidade, aguçando-me os sentidos, numa autêntica delícia: Se soubesses o que encontrei ao fundo do meu quintal, mesmo junto à capoeira, (paredes meias com a parada da polícia que tinha o quartel ao lado e que em golfadas de água por garrafa de pirolitos, era o nosso perfeito alvo) e continuando diz-me ela: Está lá um bicho de conta, um bicho de conta danado!
       Danado, disse eu!
       Ele só sabe enrolar-se, não faz muito mais do que isso!
       Ai! Estás tu muito enganada, fiz a maior das descobertas, este bichinho é diferente, este bichinho é fantástico!
       É um bichinho geográfico!
       Os meus olhos de castanhos, cheios de sonhos e histórias, aguados de horizonte, ficaram tontos, tontos, até se tornarem negros, grandes esbugalhados, tentando adivinhar os segredos que tal bichinho de conta tinha ainda pra contar, fora aqueles que sabíamos, e não íamos desvendar.
       Desceu os degraus em pedra que levavam ao quintal, e num canto da parede, forrada de “ervas-arroz”, mostrou-me entusiasmada o que a mãe natureza lá pôs.
       Um ninho!... Nem sei se ninho se chama, ao lugar onde nascem e crescem, enrolam e desenrolam, os nossos bichos-de-conta; Mas é casa... moradia, um cantinho para estar, lugar perfeito para bichos que crescem e se multiplicam, com a aragem do mar.
       E foi nessa descoberta de crianças, tão ingénua, que começou a brincadeira, do bichinho apontador das ilhas, a posição. Bastava tocar-lhe ao de leve, num jeito doce da mão, pontas dos dedos suaves, como seda e pensamentos, acariciando a mãe Conta e todos os seus rebentos.
       E foi aí que nasceu o Bichinho-Bichiel, que assim nos indicava onde era S. Miguel, e do Bichinho-Bichial que nos mostrava desenrolando onde ficava o Faial.
       Esse bicho passou a servir prás mães contarem às filhas, que nas cozinhas existia, debaixo de qualquer armário, em lugar de se esconder, um bichinho que contava as vezes que a sopa ficava, ou não, por comer.
       Se fosse sopa de letras... mil conchas de borboletas viriam povoar os nossos sonhos. Se era de feijão, ele contava grão a grão... se fosse de vegetais eram beijos e coisas tais...
       Por isso as crianças sabiam que assim sentando-se à mesa e no prato fumegava sopa, o bichinho de contar, estava lá a espreitar, e depois contava às mães, sem “emboras”, nem “poréns”, o que se comia ali.
       Muito, pouco, nada, tudo!
       Não era um bicho papão... Não!
       Mas acreditando na história, não deixava as “mães na mão”.
       Que graça tinha este bicho, que para além de “inteligente”, servia para contar histórias, que tinham lá dentro gente.
       E por mim contado ás crianças, constrói as minhas lembranças!