Eram meados de Maio. E o sol insistia.
O cais enchia-se. Manhã cedo era uma azáfama, um corre, corre, a alcatra feita na véspera, noite fora, com ânsia de abraços, os bolos de massa sovada, cobertos de pano branco, cheirando a chegadas.
O cais enchia-se. Manhã cedo era uma azáfama, um corre, corre, a alcatra feita na véspera, noite fora, com ânsia de abraços, os bolos de massa sovada, cobertos de pano branco, cheirando a chegadas.
A melhor roupa, o melhor fato e veste os pequenos, e mexe-te p’ráqui e mexe-te p’ráli. É dia de S. vapor, mas aquele vapor vinha a transbordar de parentes da América, de novidades, de alegrias.
Festa do Divino Espírito Santo... os ilhéus voltam sempre
Eram um quadro de vida, escorrendo ternura. O mar ondulando. Gente como marés, a terra esvazia-se e abre caminhos em direcção ao Oceano. Fala-se e espreita-se o horizonte e buzina o barco virando a ponta da ilha… as lágrimas já correm, os pequenos sobem ao farol, saltam inquietos.
Numa enxurrada chegam-se à beira.
Os abraços caem como a saudade… frutos maduros.
Á Francisco, estás tão profeito!
E já no cais vão combinando, que o Chico é mordomo e vai coroar e dá a Função...
Á Francisco na t’apoquentes foi mê pai que criou o bezerro.
Ilhas não têm só partidas, são também terras de chegadas.
E está tudo na mesma, a horta, o quintal.
Tudo brilha, escasqueadinho.
E trazem lembranças e enchem-se as gavetas de roupa corações de agradecer, palavras de felicidade em reboliço
E faz-se a Função, enchendo o quintal de mesas e bancos, os meninos saltam e correm vestidos de branco, volitando anjos na lembrança para o tempo de recordar.
Nas panelas ferve a sopa do Espírito Santo com raminhos de hortelã, o vinho corre p’los copos quais bodas de Canaan.
São os olhos a transbordar de afeição, o tudo saber o sonho final.
E é cais de novo porque os dias não fingem que o são.
A buzina do barco, um choro com sentido incomoda e rói.
O tempo daqueles doze meses há-de escoar-se em marés de retorno.
Um lenço que acena, uma lágrima que diz:
-Até p’ró ano!
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