5 de fevereiro de 2010

O Passaragatinho

       Às listas, amarelo, branco, ar dengoso, ronronando, pêlo lustroso; apareceu como por magia, numa rua de Barrelas, um gato, um estranho gato, tão lindo que até parecia pintadinho a aguarelas!
       Poderia começar esta história por:
       Era uma vez um canteiro..., era uma vez uma árvore pequena..., era uma vez um arbusto..., era uma vez um ninho, um ninho sem passarinho...
       Mas vou começar assim:
       Era uma vez uma rua, no céu havia uma lua, na rua havia um canteiro, e no canteiro uma árvore, rodeada de pedrinhas, que juntou o jardineiro.
       Na árvore, pequena mas frondosa, folharuda, havia um ninho...
       Nesse ninho o que haveria?
       Um passarinho encarnado?
       Um melro-preto pintado?
       Mas que estranha história esta, volto a traz e volto ao gato, amarelo, listado, dengoso, bem encarado... mimado.
       Quem perderia tal gato?
       A vizinhança com pena, encantada com os trejeitos do engraçado bichano, dava-lhe pratinhos de sobras, até patês e outras coisas gulosas.
       Tentavam agarrá-lo, talvez adoptá-lo, mas qual quê! Não se deixava levar em enganos.
       Comer, sim!
       Passeios e miadelas, lá ia lambendo tigelas, passando-se nas canelas, este gato era esperto, vivia ali muito bem; e poderia até pensar:
       “Como do melhor que um gato tem!
       Numa noite de invernia, até lhe fizeram “casa” num jeitoso balde de cola, lavadinho até á borda, um pedaço de cobertor quente, para não bater o dente.
       Mas não era aí a dormida!
       De onde viria ele?
       Aparecia como por encanto, e num ai, desaparecia, deixando-nos com cara de espanto.
       Por mais que vasculhássemos, procurássemos, o tentássemos iludir, ou apanhá-lo a fugir do seu misterioso esconderijo, este gato era esperto, era rijo!
       Já tinha chovido “a potes”, e ele, seco, um “nem me toques”!
       Era um frio de rachar! E lá aparecia ele, sabia-se lá de onde vinha o bichano de estar.
       Intrigada a vizinhança, tentava apanhar o dengoso, saindo do seu buraco, mas nada! Nem com a cilada montada, o pequeno gato listado se deixava apanhar.
       Mas todos os dias lá estava, à frente do prato cheio de restinhos e gulodices, que toda a gente lhe dava.
       Um dia, já muito tarde, saio do carro pra casa, e eis que se não, aos meus pés surge o nosso listadinho, amarelo, amarelinho, miando, com marradinhas nas pernas, e lá lhe dei um bocado de pão que trazia no saco, não fosse morder-me as canelas.
       Pão comido, só de um trago, ficou o listado no canteiro. Foi aí que me lembrei:
       ...E se eu me escondesse agora?... Pode ser que hoje descubra, onde é que o listado mora!
       E não é que meu dito meu feito, mal fecho a porta de casa, apago a luz, fica escuro, e lá vem o nosso gato, devagar, devagarinho, juntinho ao muro, foi-se chegando ao canteiro, pôs as patitas na árvore, arma um salto ágil, lampeiro, sobe ao tronco, pelo meio das folhinhas, dá meia dúzia de voltas, e lá no meio de toda aquela folhagem, muito bem escondidinho, não morava ave, bicho de pena, mas sim , em jeito de ninho em casa estranha de estar, é que dormia o nosso gato, este “gato-passarinho”!
       E como digo aos meninos, ao fim do conto contado, ficou o conto acabado.


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