23 de dezembro de 2009

Mais uma vez é Natal

       ...Mais uma vez alguns se lembrarão de presépios... dias frios... de lareiras quentes... de corridas ao musgo, às pedras bonitas... mais uma vez alguns se lembrarão do reboliço nas cozinha... travessas... cheiros bons a doces, canela e mel, nozes pinhões e figos... a mãos enfarinhadas, manteiga dourada... ovos... açúcar, e olhares de segredos adivinhando surpresas escondidas. De pinheiros erguidos ao canto da sala... de bolas e sinos... anjos e velas, fios e luzes... meninos correndo... meninos rindo esgueirando-se lambendo os restos doces nas colheres de pau.
       Montras luzindo, piscando o seu brilho, entornando desejos nos olhos das crianças.
       Mais uma vez alguns se lembrarão das mãos atarefadas das mães e avós, do sorriso cúmplice dos pais, dos sinos tocando... do olhar tão doce, terno e perfeito dum menino deitado nas palhas, entre Maria e José... burro e vaquinha, estrela ao alto... ovelhas e cordeirinhos... pastores e reis.
       Mais uma vez será Natal... mais uma vez alguns se lembrarão que Natal era um tempo mágico, ainda aguardando que o continue a ser.
       Hoje, digo, que Natal é entrega, é dádiva de vida, que Natal é nascer e ser, de dentro para fora, é crescer por dentro, é ser mão que se estende, é esquecermo-nos mais de nós para pensar no outro.
       Mais uma vez é Natal, e alguns quereriam dar presentes bonitos, embrulhados com carinho, comprados com o coração, de moedas poucas.
       Mais uma vez alguns se vão juntar em família e partilhar por afecto e amor essa noite especial.
       Mais uma vez alguns se lembrarão que entre Natais que chegaram e partiram, a vida os foi encontrando mais sós.
       Alguns se lembrarão que o amigo, o vizinho, os que nada têm, precisariam primeiro que nós, daquilo que na nossa mesa é muito?
       Alguns se lembrarão de quantos não têm missa do galo, consoada, pelo peso dos anos, da saúde, ou da comodidade dos “seus”?
       Alguns se perguntarão onde nasce, germina e cresce e se transforma em gesto o espírito cristão?...
       Que Natal de nascer é este? Que separa e não une, que ostraciza e nos toca, como um pingo frio de chuva que se sacode do ombro, porque incomoda... porque molha?
       É tão mais fácil fazer de conta... Tudo está “bem”, quando no nosso “Pequeno-Mundinho”, nada vem perturbar...
       Mais uma vez, lágrimas escondidas ficarão guardadas no livro das lembranças de alguns.
       Que estas palavras possam ser a diferença, para todos esses. Que sejam consolo, prenda, sorriso, mão estendida, sinal de quem os lembrou; sejam abraço quente numa espécie de prenda-carta de amor. Porque Natal vale a pena.
       A todos, aos que têm... aos que não têm... aos que estão alegres... aos que estão tristes... aos que ainda sonham... aos que não sonham, mas que acreditam que a palavra Natal muito pode mudar, pois que entre um Natal e outro uma ponte de esperança se poisa.
       Feliz! Feliz Natal!


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